Moro em São Paulo, cidade onde andar de bicicleta é sinônimo de lazer, (principalmente) aos domingos pra uma galera animada. Já euzinha, nunca tive essa vontade de andar de bike pelas ciclofaixas daqui de maneira recreativa, muito menos para o meu meio de transporte. Na verdade acho que, andar de bike para a minha locomoção, eu precisaria morar em outra cidade, uma bem menor, sem ladeiras (do tipo plana), ciclovias que ligassem todos os cantos da cidade, que os motoristas respeitassem e colocassem os ciclistas como prioridade, enfim aqui a gente sabe que não é bem assim, mas em Berlim, é assim.

Por isso, eu criei coragem e fiz da bike o meu meio de transporte pela cidade nos dias em que eu estive por lá. Conheci Berlim pela primeira vez no inverno, dessa vez era verão, ou seja conheci uma nova cidade. Impressionante, como essas cidades onde o inverno é bem rigoroso se transformam completamente no verão. O clima é de liberdade total e a minha bike foi providencial. Eu e o Beto, não fizemos nenhum roteiro prévio do que iríamos fazer nessa viagem, afinal como já tínhamos feito toda essa parte turística/cultural, dessa vez decidimos que faríamos o que desse na nossa telha. Deu vontade de ver, víamos, deu vontade de fazer, fazíamos, deu vontade de comer, comíamos.

O primeiro dia de bike foi um exagero, só. Acho que andei mais do que já andei na minha vida toda de bicicleta (isso inclui a minha infância, ok). Juro, eu sei que sou um pouco exagerada, mas andamos como dois loucos por Berlim. A cidade ajuda muito. É ciclofaixa por todos os lados, tudo retinho, uma educação e um respeito pelo ciclista que me fez pensar “Como seria viver num lugar assim de primeiro mundo?!”, confesso que isso me deu uma certa invejinha dos berlinenses, mas enfim aproveitei até as minhas costas arderem de tanto andar de bike.

Nosso primeiro grande desafio foi encontrar o Castelo de Charlottenburg, depois de algumas horas e muito Google Maps auxiliando nossa rota, finalmente chegamos. Mas havia um detalhe que nós dois não nos preocupamos em saber antes, era segunda-feira, ou seja o castelo estava fechado – por favor, usem vossas imaginações para a minha onomatopeia – sniff sniff . Se não tem tu, vai tu mesmo, nosso passeio não foi em vão. Os jardins do castelo valeram por todo o nosso esforço e suor. Simplesmente, maravilhoso. Na verdade atrás do Palácio de Charlottenburg, há um pequeno jardim barroco e depois é que vem o parque – O Schlosspark – que remonta ao século XIX, ele foi projetado ao estilo inglês, com um lago artificial e jardins à beira do rio. Fica na Spandauer Damm.

Como escurece tarde, aproveitamos pra andar de bike até o anoitecer. Fizemos muitos passeios, um dos meus preferidos foi andar pela beira do Rio Spree, onde a galera costuma ficar sentada, tomando sol, conversando e aproveitando a vibe do lugar – do tipo, ouvir um violinista tocar música clássica. Andar por Berlim é relativamente fácil, ainda mais nos tempos de hoje, onde todo mundo vive conectado na internet. Conferir uma direção correta, fazer uma pesquisa rápida, procurar um restaurante, não demora mais que um minuto, tudo se resolve pelo celular, aliás comprar chip de internet é a primeira providência em uma viagem.

Tenho certeza que, dessa vez visitámos inúmeros lugares, tantos novos quanto velhos, ou melhor lugares que já havíamos ido, mas queríamos voltar e lugares que nunca tínhamos ido e, fomos pela primeira vez, tudo por conta da bike. Otimizamos o nosso tempo andando pela cidade, ir de um lugar para o outro foi bem mais rápido e muito mais prazeroso – afinal, o fator vento na cara era a minha mais nova sensação do momento – definitivamente foi uma experiência ímpar. Os ciclistas de Berlim mais se parecem com enxames, eles convivemos em harmonia com os motoristas, óbvio existem regras para virar à esquerda ou para à direita, atravessar a rua de um lado para o outro, aguardar o sinal ou passar entre os carros, mas tudo é devidamente organizado. Então, não me restou outra alternativa, desse jeito ficou impossível andar pela cidade de outra maneira que não fosse de bike, isso sem contar que eu aproveitei e me exercitei, meus carboidratos e minhas taças de vinhos agradecem o descarte ecológico de calorias.