Como se não fosse pouca toda a cobrança que, paira sobre nós – mulheres – agora, a sociedade passou a se incomodar com a vagina alheia, sim, isso mesmo V.A.G.I.N.A. Nossa amiga vagina, aquela que ao nascermos, nasceu junto com a gente.

Fiquei intrigada, quando comecei a ler sobre a tal da operação íntima, mas a ficha só caiu quando descobri que o nosso país é campeão em futebol (não), na verdade somos campeãs em Ninfoplastia, ou se preferir na diminuição dos pequenos lábios vaginais. Ok, você até pode dizer que dentre todas estas operações realizadas no ano de 2016 – 25 mil – uma parte delas foi por conta de problemas funcionais, mas a verdade é que na sua grande maioria elas foram realizadas por questões estéticas e, não, por questões de saúde.

O que eu ou você temos a ver com a vagina de cada uma?!

Nada. Cada mulher sabe onde seu calo aperta, se sentir bonita é uma questão muito pessoal que, carrega toda a nossa bagagem de sensações e experiências vividas. Agora, neste caso específico fica muito claro e nítido, esse desejo de mudança estética ser fruto de um padrão exigido por uma imposição absurda. Se trocarmos de lado, eu não consigo imaginar o Brasil se tornando o campeão em cirurgias íntimas masculinas, simplesmente porque os homens não sofrem as mesmas pressões sobre a sua aparência e, muito menos, sobre o aspecto da submissão pela qual nós passamos.

A vagina é uma parte do corpo tão significativa do corpo feminino, ela representa muito mais do que o nosso sexo, ela é a nossa expressão feminina em toda a sua complexidade. Se submeter a uma cirurgia desse tipo, diz muito mais da sociedade equivocada em que vivemos do que da nossa própria percepção de feminilidade.

Um homem que critica uma vagina, não está criticando ela em si, está subjugando a mulher e todo seu papel na sociedade. É como se, apontando um defeito vaginal, nos tornássemos ainda mais inferiores aos homens. E, ainda que não haja uma crítica masculina para a realização da mesma, se for apenas uma vontade própria, ainda assim precisamos entender essa real necessidade, se ela partiu internamente ou se foi fruto de uma pressão estética vinda de fora, de um novo padrão de beleza. O culturalmente aceito, não é sempre justo.

Me falem, quando virou "moda" operar a vagina, gente?!!

Já, o cirurgião plástico José Octávio de Freitas afirma AQUI que, “mulheres sempre se incomodaram com a aparência dos lábios”. Mentira, eu nunca me incomodei com os meus e, acredito que muitas outras mulheres também não, esse desserviço só aumenta a pressão em cima de nós. Imagina, ser adolescente nos tempos de hoje?! além de almejarem colocar silicones nos seios, elas agora almejam uma cirurgia íntima.

É, tão difícil para muitas mulheres terem uma relação de harmonia com seu próprio corpo, se amar, se conhecer, se respeitar, agora vem isso aí colaborar ainda mais pra baixar a nossa autoestima. Os veículos de comunicação disseminando matérias sobre a vagina da mulherada, normatizando o clareamento vaginal, como se todas as vaginas do mundo fossem rosas virginais, além de padronizar esteticamente os pequenos lábios.

Mulheres que não são mais jovens, mulheres negras ou que já se tornaram mães, vão precisar entrar na faca e cair de boca no clareador, segundo essa nova imagem da vagina perfeita. Biologicamente a vagina escurece e muda de formato com os anos, esse processo é natural e parte do envelhecimento feminino.

Tudo começa assim, no primeiro momento a estranheza, em seguida o incomodo. E quando paramos pra pensar, estamos atrás de cirurgias plásticas pra mudar o que somos. A insatisfação é geral. Seguimos a boiada, sem ao menos nos questionarmos sobre os porquês desse nova “moda”.

Desde que o mundo é mundo, nascemos em diferentes corpos e estruturas físicas, querer padronizar a vagina é como um quadro de Dali – surreal. Deixai nossas vaginas em paz, não é fácil ser mulher, se depilar, menstruar, sentir cólica, ovular, engravidar, parir…não nos invadam dessa maneira tão íntima. Deixe a minha, a nossa vagina livres de seus mandos autoritários e seus julgamentos cruéis. Elas nos pertencem.