Uma das lições mais enfáticas da minha Terapia Holística, é, a seguinte: para ter um corpo livre de doenças, trate da sua mente. Não existe corpo são vivendo em uma mente desequilibrada. Por isso, o auto conhecimento é a base para uma vida sem doenças. Por isso, saiba que, até mesmo aquela gripe inocente é o resultado de uma mente agitada, muitas vezes o nosso corpo adoece para nos passar um recado ou expurgar um trauma. Enfim, seja de qual forma isso acontecer é sempre um meio de nós nos tornarmos mais alertas e menos displicentes, com as questões do nosso subconsciente e inconsciente. Da mesma maneira pela qual cuidamos do nosso corpo, frequentando uma academia, deveríamos fazer o mesmo com a nossa mente, cuidando mais dela.

Essa semana eu me vi com uma alergia que há tempos eu não sentia na pele, tenho intolerância à lactose desde muito pequena, mas sou uma adulta totalmente “nem aí” pra ela, não deixo de comer absolutamente nada, quando muito troquei o leite de vaca que eu costumava tomar em casa, pelo leite sem lactose. Mas, dessa vez não deu pra passar despercebido por essa alergia,  minha barriga estufou (sim, ela estufa como seu eu estivesse grávida de uns 4 meses) e, ela simplesmente não desinchava. Recorri ao velho método remédio alopático, seguido do caseiro até chegar a massagem linfática. Nada funcionava. O fato é que meu corpo estava me dando um sinal, mexer no vespeiro do meu subconsciente – significava ferroada no horizonte – com toda a certeza da terapia holística e de Carl Gustave Jung.

Pois bem. Um belo dia passando em frente a uma livraria, acabei saindo de lá com uns 15 livros sobre feminismo de todos os tipos: feminismo negro, poemas feministas, feminismo individualista, enfim achei a necessidade de me inteirar ainda mais sobre esse assunto, principalmente depois do meu recente evento criado e feito para mulheres – #Nos40DoSegundoTempo – onde o objetivo principal é falar e ouvir à respeito das questões femininas. Isso, me despertou a responsabilidade de estar ainda mais preparada e antenada do que nunca.

Dentre os vários livros que eu havia encomendado, justamente um deles não fazia parte dessa lista tão feminista, ele acabou vindo no meio do meu pedido, simplesmente por acaso (será que foi o acaso mesmo?!). E, ele era sobre (justamente) a relação entre pai e filha. Tema não propriamente do universo feminista em si, mas fundamental pra entender até mesmo a mulher que se torna uma feminista. Essa relação sempre foi muito delicada, apesar de fazer terapia, esse tema sempre foi uma questão pela qual eu não me aprofundava. Evitava a todo custo ter que falar sobre ela.

Pois bem, de repente “cai no meu colo” o livro de uma analista junguiana, uma fera no assunto nesse tipo de relação. Não sei dizer ainda exatamente o quanto eu fui e ainda estou sendo impactada por esse livro, mas posso dizer que chegar a ler a última página, me fez sentir nocauteada. Foi como, se o meu corpo todo estivesse sentindo.

Foi por conta disso que, meu corpo reagiu, a minha alergia gritou, uma gripe me acamou e, eu parei pra refletir e sentir todo aquele sofrimento guardado por anos debaixo daquele monte de lembranças escondidas e muitas também esquecidas da minha memória, pelas quais eu não queria ter mais contato nenhum. E, foi assim, sem avisar, elas começaram a submergir, o que tornou impossível eu continuar desviando o meu olhar para o outro lado, eu precisei olhar para a frente.

A grosso modo, as pessoas sabem quais são as consequências das crianças abandonadas ou negligenciadas por seus pais (plural), mas ninguém fala de maneira mais específica sobre a relação entre um pai e uma filha. Escuto muito minhas amigas e outras mulheres se queixando sobre seus relacionamentos afetivos atuais, sem se darem conta desse paralelo com a figura paterna de cada uma delas, pra tentarem justamente entender seus relacionamentos e atitudes do presente.

O pai de toda menina é seu primeiro amor na vida, e, é, a partir dessa relação que eu e você vamos construir as bases dos nossos futuros relacionamentos, sejam eles no plano pessoal ou profissional. Tudo vai depender da forma como essa relação se deu na infância e na adolescência, além obviamente de levar em consideração o seu jeito de ser individualmente. Por isso, não existe fórmulas mágicas de criação em relação as meninas, mas existe uma questão fundamental, a forma como isso deve ser feito, porque se essa relação não suprir o cuidado e a orientação pela qual nós “meninas” necessitamos, certamente nossa postura de vida será diretamente afetada pela falta desses cuidados e dessa orientação.

Eu sei, essa seara é enorme e profunda, mas as questões relacionadas a nossa auto imagem são diretamente ligadas ao nosso relacionamento paterno. É nesse ponto que eu abordo o feminismo pra minha vida. Conviver com meu pai foi um grande desafio, seu autoritarismo e sua forma distante de ser durante toda a minha infância foram a razão da minha grande frustração. As constantes discussões em casa, a falta de diálogo, me transformaram em um protótipo de feminista mirim. Afinal, a minha imagem paterna estava comprometida demais pra que eu tivesse algum tipo de admiração em relação ao masculino na minha vida. Isso, obviamente afetou o modo como eu me relacionei com os homens no passado, hoje eu consigo entender e valorizar o lado masculino, porque antes eu apenas desprezava.

O mais irônico dessa minha caminhada é que, apesar desse desprezo que eu sentia pelo lado masculino negativo, foi justamente esse modelo que eu passei a imitar. Sempre me identifiquei muito mais com o meu lado masculino, do que com o meu lado feminino. Tudo aquilo que eu não gostava, no fundo era o que eu reproduzia. Meu feminino ficou abandonado, desvalorizado dentro de mim. E, tudo isso porque eu considerava ele muito passivo e fraco. Só que, a minha força não precisava estar relacionada com o poder masculino, isso foi simplesmente libertador pra mim.

A minha relação com o meu pai sempre foi uma montanha russa de emoções reprimidas, já passei pela fase da raiva, do ódio e da rejeição. Hoje eu tenho a consciência de suas limitações, apesar do modo como suas atitudes influenciaram a mulher que eu me tornei. Suas limitações como meu pai também foram por conta de suas relações com o feminino e o masculino na sua vida, seria muita injustiça minha não levar isto em consideração. No fundo foi preciso essa minha ferida ser totalmente exposta e entendida de dentro pra fora, pra que eu aceitasse essa minha realidade. Minha relação que até então era apenas malresolvida na minha psique (mente), passou por um turbilhão de novas emoções, eu comecei a descobrir os pontos positivos do meu pai. A minha atual fase é da aceitação de suas limitações, de suas fraquezas e apesar delas e de como elas afetaram a minha vida, eu estou no caminho da compaixão e da cura.

Aquela gripe lá do começo desse meu relato, foi a tristeza por todo aquele sofrimento vivido e hoje entendido. Minhas lágrimas e meu luto interno foram a resposta da minha vulnerabilidade exposta, das minhas feridas finalmente reveladas e dos meus sentimentos aceitos por mim. Baixei a guarda das minhas defesas. Chorei.

Hoje, eu deixo a menina frustada para o passado, me torno realmente a mulher (ocultada por mim), entendo o que faltou no meu íntimo, redimensiono esse lado masculino, aceito as novas possibilidades e me liberto da ira estagnante. Eu não sou mais uma vítima.

Me despeço daquela couraça, ela não me servi mais…

"Sofremos a influência de nossos pais, mas não estamos 

predestinadas a permanecer meros produtos deles".

                                                                     Linda S. Leonard