Menina faz ballet e menino faz judô. Sempre foi assim, quando uma mãe ou um pai fala sobre as atividades extra curriculares de seus filhos, geralmente os gêneros se encaixam nessa caixa de menino e menina. Padrões preestabelecidos em função de gênero. Não, não venham me falar que, se eu te dizer que meu filho faz ballet, a primeira coisa que provavelmente vai passar pela cabeça da grande maioria é – “ele deve ser gay” – como se um garoto não pudesse escolher apenas por interesse ou paixão, tem que ser gay.

Eu fiz ballet como manda o figurino, nunca me disseram que eu poderia fazer alguma luta ou artes marciais. Aliás, pelo que eu me lembro da minha infância, essa possibilidade nunca me foi oferecida. Não, não é uma crítica aos meus pais, apenas uma constatação do que sempre foi a normalidade. Sempre sonhei em ser princesa, em ter uma festa de princesa nos meus 15 anos, casar como princesa e com meu príncipe a tiracolo. Tudo isso, não aconteceu, pelo simples fato, eu não sou a Kate Middleton e o Beto não é o William Arthur Philip Louis, respectivamente Duque e Duquesa de Cambridge, futuros Rei & Rainha do Reino Unido.

Impressionante, como culturalmente estamos apegados aos rótulos, essa desconstrução é necessária e muito importante, ainda mais quando olhamos os índices do machismo brasileiros e mundiais. Ninguém nasce princesa, muito menos machão, essas “qualidades” nos são ensinadas/passadas desde sempre, desde muito pequenos. Somos limitados tanto do lado feminino, quanto do lado masculino.

Afinal, um menino com sensibilidade precisa se policiar para não virar piada, a menina que brinca com o quartel do “Comandos em Ação” passa a ser chamada de sapatão, sim isso aconteceu com a minha irmã na sua infância, tanto que, ela tentou esconder que havia ganhado esse presente até “ser descoberta” pela turma do prédio e cair na boca das crianças, todas devidamente preparadas para julgar o “diferente”.

Não, ela não virou sapatão por conta disso, aliás se ela fosse, 

tenho certeza absoluta que não seria por causa do brinquedo, né?!!

Mas, voltando para a desconstrução. Normalizamos as escolhas por padrões de gêneros. Ensinamos que nossas meninas são mais frágeis e os meninos mais fortes, na Medicina Tradicional Chinesa dizem que a energia feminina é diferente da energia masculina (1). Ponto. Mas, a verdade é que não é esse o ponto da divergência, uma simples energia, subjugamos as meninas e enaltecemos os meninos. Mostramos que eles podem ousar e que nós precisamos saber nos comportar “Nada de mostrar a calcinha, sente-se direito, afinal você é uma menina”. 

Que contradição foi essa que nós embarcamos coletivamente?! eu digo isso por mim também, forcei tanto a barra pra fazer da minha filha uma princesa que, o tiro saiu pela culatra. Eu que nunca fui princesa, tentei educar uma criança como uma. Decorei seu quarto em tons de rosa e verde, muitas estampas floridas e muito rococó. Hoje a cor preta é o ponto forte da sua decoração, as flores foram retiradas do quarto com fogos de artifícios por ela, rosa não entra nesse quarto nem por um decreto.

Eu dei apenas uma possibilidade pra minha filha, quando na verdade eu poderia ter dado um leque de opções. Isso inclui o meu filho, adivinhem qual era a cor do quarto dele?!

Estamos falando da cor dos quartos, uma bobagem, se realmente nos apegarmos aos pontos mais profundos dessa discussão. Isso, foi apenas um exemplo de como agimos de forma padronizada, sem ao menos nos questionarmos por um momento. Precisou passar um bom tempo, pra que eu pudesse realmente entender que eu agia de maneira totalmente cultural.

A crença de que meninas usam rosa e meninos usam azul, reforça os preconceitos, os estereótipos e tira de nós o melhor de cada um – a diversidade e, principalmente a liberdade – nós mulheres andamos sempre em alerta, afinal nos sentimos frágeis e incapazes perante a violência masculina, se tivéssemos sido educadas com a mesma sensação de igualdade dos meninos, culturamente seríamos muito mais respeitadas, não seríamos ameaçadas pelo espectro masculino.

Avon – Repense o Elogio

Recentemente, a Avon (marca de cosméticos) produziu um filme publicitário, onde os aspectos culturais de gêneros são debatidos – #repenseoelogio – resolvi ler os comentários. A cada comentário “primoroso” que um ser humano proferi sobre o assunto, um urso Panda morre por minuto, pois bem, vários morreram

Festival de preconceitos, imbecilidades e, os clássicos “Vai cuidar dos teus filhos Avon” ” Desde quando uma marca acha que pode nos ensinar a sermos pais”, enfim deixo pra vocês refletirem.

Fonte: Fórum Econômico Mundial

(1)“O Yin e o Yang, forças que, apesar de opostas, são integradas e inseparáveis, são representados na imagem de um círculo separado por uma linha que demarca duas metades, sendo que há uma parte de cor preta (representando yin) e uma parte branca (representando yang). Na parte branca há um pequeno círculo preto, assim como na parte preta há um pequeno círculo branco, o que simboliza que, mais que opostos e complementares, há uma parte yang na composição do yin, assim como há uma parte yin na composição do yang. De certa forma, esse é o princípio do TAO”