#Nos40DoSegundoTempo

O lado negro de Myanmar

Há 2 anos atrás, eu fui para Myanmar na Ásia. De todos os lugares que eu já visitei, certamente este foi um dos mais encantadores da minha lista. Fiquei completamente apaixonada por toda aquela simplicidade quase ingênua de um povo na sua maioria com feições morenas e franzinos, muito parecidos com os indianos. Constantemente eu era abordada (dentro e fora dos templos), por envergonhados moradores locais que, me pediam para tirar fotos com eles, eu parecia uma espécie rara de ser humano/celebridade pouco vista pelas redondezas.

Eu achava muita graça nisso tudo, porque do mesmo jeito que eu também achava eles diferente de mim, eles me achavam. O meu álbum está cheio de fotos com mulheres, homens, crianças e senhoras de todas as idades e cidades, por onde eu passei. Nunca senti o mínimo sinal de reprovação, pelo meu interesse em fotografar as pessoas de lá. Sempre fui tratada com tanto carinho por eles, inclusive eu até cheguei a imaginar que, mesmo o país tendo uma economia precária – 80% da população é considerada pobre e com poucos recursos – pudesse ser um país feliz e acolhedor para todos, assim como eu estava sendo naquele momento.

Tudo me fez crer que sim. Afinal, historicamente falando, o passado recente de Myanmar foi de um país recluso e fechado, regido por anos de um regime militar duro e autoritário, onde uma militante da liberdade passou anos em prisão domiciliar, até ser uma das mais famosas ganhadoras de um dos prêmios mais importantes da humanidade AQUI – O Premio Nobel da Paz – com esse histórico de luta contra opressão e busca pela liberdade de direitos, eu nunca poderia imaginar que, um dia eu fosse ler manchetes denunciando o massacre da minoria Rohingya naquele país.

"Myanmar pode ser acusado de genocídio"

Confesso, eu tive uma única pista sobre essa perseguição étnica naquela época, quando o meu guia nos contou sobre essa minoria em tom de desprezo. Lembro que eu fiquei incomodada com seu relato, mas eu nunca poderia imaginar as barbaridades que no futuro iriam ser cometidas contra esse povo já tão abandonado e esquecido do resto do mundo.

Quem são os Rohingyas?!

“Eles são conhecidos como “a minoria mais perseguida do mundo”. Os muçulmanos rohingya, que atualmente protagonizam uma fuga em massa de Mianmar para Bangladesh, são vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras de casamento injustas e confisco de terras.

Há séculos vivendo no território de Mianmar, são considerados um povo sem Estado e não são reconhecidos como um dos 135 grupos do país. No entanto, atualmente há cerca de 1,1 milhão deles na nação sul-asiática, sob condições altamente precárias da extrema pobreza

A lei birmanesa sobre a nacionalidade de 1982 especifica, concretamente, que apenas os grupos étnicos que podem demonstrar sua presença no território antes de 1823, data da primeira guerra anglo-bereber que levou à sua colonização, podem obter a nacionalidade birmanesa. No entanto, os rohingyas vivem em Mianmar desde o século XII, segundo muitos historiadores”.

O que me encantou no povo de Myanmar é exatamente o que eles não aceitam no povo étnico dos Rohingyas – suas diferenças. É muito difícil entender como um povo tão amável, pode ao mesmo tempo se tornar tão cruel. Os Rohingyas são fisicamente muito mais parecidos com eles, do que eu, mesmo assim, fui eu quem despertei um interesse positivo, contra um ódio avassalador contra eles.

Nas fotos acima, visualmente quem poderia distinguir a diferença entre eles?!

Impossível. As diferenças físicas são tão pequenas. Então, como pode haver tanta hostilidade?!

O lado negro do ser humano é sempre o preconceito irracional, ele é capaz de atrocidades inimagináveis. As mulheres e as meninas são sempre as mais vulneráveis nestas situações, são elas quem sofrem as piores violências, são brutalmente estupradas por vários soldados, presenciam a morte de seus familiares e, muitas vezes carregam no ventre a marca dessa vulnerabilidade – muitas acabam grávidas de seus algozes.

N, 17 anos

N estava em casa com seus pais e irmãos no fim de agosto quando ouviu tiros do lado de fora. De repente, dez homens invadiram a casa. Começaram a rasgar sacos de arroz em busca de pertences da família.

Então, os soldados amarraram suas mãos para trás com uma corda e taparam sua boca com uma fita.

Cinco deles contiveram a família, batendo neles com armas. Eles arrancaram as roupas de N e roubaram seus brincos e o dinheiro que carregava consigo. Quando ela tentava reagir, apanhava.

Os soldados jogaram N no chão. Cinco se alternavam para estuprá-la, enquanto outros ajudavam a imobilizá-la.

Os parentes foram forçados a assistir ao estupro. Quando gritava, os soldados os batiam. Acabaram ficando em silêncio durante o ato.

Após a saída dos militares, seus pais desamarraram e lavaram a filha. Ela sangrou por cinco dias.

A família partiu para Bangladesh no dia seguinte. N sentia muita dor para caminhar e foi carregada até a fronteira.

  • Reportagem completa: AQUI

Conhecendo Bagan do alto

Depois de uma viagem tão especial, como essa, o que ficam são as lembranças. Como blogueira, meu trabalho é relatar tudo de bom que eu vi e vivi, por isso às vezes a tarefa de escolher o que escrever no blog, se torna tão difícil. Ainda mais quando o tempo passa, e o post demora mais do que eu gostaria.

Aí, preciso puxar pela memória, pelas fotos e então, saio escrevendo. Quando o passeio foi bom, o post vem naturalmente, esse é um daqueles, veio fácil. Como não lembrar, do meu primeiro passeio de balão?!

Tudo começou assim, acordamos muito cedo, quando eu digo cedo é cedo. Tipo 4 horas da manhã. Nada de café de manhã, não tem tempo e muito menos o restaurante do hotel está aberto a essa hora. Seguimos de van para um lugar descampado, onde várias empresas de balões se juntam, para os passeios do dia.

Recebemos as instruções do voo, conhecemos nossa balonista pilota e seguimos para o nosso balão, que foi devidamente pesado, os seja previamente passamos o número do nosso peso/quilos, para que todas as passageiras não ultrapassem o peso permitido. Vixe, imagina engordar na viagem?!

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Enfim, subimos. Um certo desconforto para algumas entrarem naquele cesto, mas nada que uma pequena ginástica dê conta da entrada. Começa aquele fogaréu, ele vai aumentando, até que o balão começa a subir. Que sensação boa, no começo uma certa agitação, vontade de fotografar tudo, sem parar, depois a vontade vai passando e a paz vai entrando. Nada mais de ficar tirando fotos ou fazendo selfies.

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Olhem que legal, os ajudantes eram todos uniformizados, vestindo o agasalho do Brasil

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Todas devidamente pesadas e magrinhas (obviamente), prontas para a viagem!

As passageiras: LuMich, Paula, Sil, Val, Virginia, Ia, Ice e Cris

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O passeio começa…o sol vai saindo de mansinho…

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Fotos: DQZ by LuMich

Vamos para Kakku?!

É longe, muito longe, mas certamente vale a pena. Conhecer Kakku é uma aventura, em todos os sentidos. A logística parece maluca, mas funciona: barco, ônibus de turismo e lá se vão umas 3 horas (aproximadamente), até o nosso destino.

Kakku fica fora do roteiro turístico, não é o típico passeio para quem visita Inle Lake. Localizado nas colinas do Estado de She Shan, o lugar reserva uma grande surpresa, um  santuário do século XI, onde as estupas são as estrelas – nada mais nada menos do que – umas 2000 delas, devidamente enfileiradas.

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Mas antes de chegar, uma paradinha para a foto, bem no meio da plantação de girassóis. Coisa mais linda a paisagem.

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Para fazer essa visita, é necessário ter um guia da etnia Pa-O, esses foram os meus simpáticos guias. Cheios de simbologia, eles deram uma lição de história, falaram sobre a lenda que alimenta suas origens e surpreenderam na hora de falar outro idioma, o inglês.

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Bom, mas agora vamos ao que interessa – KAKKU – melhor do que falar é ver, por isso aproveitem as fotos.

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Fotos: DQZ by LuMich