#Nos40DoSegundoTempo

Envelhecer: bons ventos sopram…

Envelhecer é uma barra. Sentir o seu corpo falhar, nunca será simples, nem para os mais otimistas. Para nós mulheres, existe uma carga a mais – o preconceito – nesse mundo machista e jovem, onde homem pode tudo e mulher não pode nada, tudo fica mais dramático e injusto.

Todos (inclusive nós mulheres), aceitamos como normal a barriga de chop no macho, mas não no da fêmea. Ninguém fala sobre as rugas deles, mas falam delas. Não preciso desenhar pra mostrar o quanto sofremos com toda essa cobrança, não é mesmo?!

Quantas mulheres a beira dos 40 anos, começam a entrar em pânico?! já ouvi amigas afirmarem que não sabem envelhecer, que estão com receio ou ficando depressivas.

Eu, já tive receio (confesso, ainda tenho de tempos em tempos), eu, me incomodo com algumas partes do meu corpo pelo simples fato de não serem mais jovens (penso naquela cirurgia plástica com mais força ainda), eu, não quero me entupir de remédios (mas preciso tomar alguns diariamente), eu, gostaria de ter mais colágeno na pele (mas não tenho mais), eu, não tenho mais o mesmo rendimento na ginástica (PQP), eu, mais uma porrada de coisas (fato consumado).

Enfim, todo cenário se torna ainda mais caótico, se a sociedade passa a excluir e tratar o ato de envelhecer de uma maneira excludente e perversa. Aceitar as mudanças do corpo e da mente, se tornam um grande fardo. Passamos a enlouquecer com mais uma ruga no rosto, entramos de cabeça na corrida contra o tempo.

Piramos com os tratamentos estéticos, nos afundamos em dor e sofrimento, 

e, o porquê de tudo isso?!

Uma parte é nossa. Verdade. Nosso temperamento, e, o quanto damos de importância e valor para essa tal de juventude eterna vai nos afetar mais ou menos, superficialmente ou profundamente. Mas, a parte pela qual a sociedade é responsável, essa a gente pode amenizar, mudar, exigir inclusão e visibilidade.

Nesse caso, a estória da modelo Isabella Rossellini é muito emblemática. Afastada de uma marca de beleza aos 42 anos, por conta da sua “velhice”, hoje, aos 65 anos, ela foi recontratada, pela mesma marca de beleza, justamente porque os conceitos estão mudando.

Os bons ventos sopram no horizonte. O que isso significa?!! Muito. A sociedade está mudando, estamos equilibrando as forças, fazendo as pazes com o envelhecer, afinal ele tem um lado positivo. Acreditar que a idade é um mero número, nos incentiva e ampliar o nosso universo de novas possibilidades. Criamos coragem para deixarmos a máscara da juventude de lado.

Envelhecer perde o peso, se torna parte da normalidade, da vida e do nosso processo. Acreditar na beleza da mulher mais velha é uma quebra de paradigmas, uma nova normatização e o fim de uma ditadura da beleza única e exclusivamente para as mulheres jovens.

As mulheres se sentem excluídas

As mulheres se sentem rejeitadas

Mudança de comportamento

Definição de uma beleza plural

Isabella Rossellini forteller om da hun fikk sparken

– They let me go at 42 because they told me I was too old to represent women's dreams. #kvinnedagenWatch our talk show interview with Isabella Rossellini here: https://www.youtube.com/watch?v=zRa7UptZ3qw

Posted by Skavlan Talkshow on Thursday, March 8, 2018

** A entrevista  abaixo da modelo e atriz Isabella Rossellini é em inglês, infelizmente eu não encontrei com tradução.

“Jovens envelheçam”

Quando eu li essa frase dita pelo Nelson Rodrigues, achei um tanto quanto exagerada, afinal pensei “Coisas de Nelson”. Depois em um segundo momento, achei a frase perfeita. Vou explicar a minha lógica Rodriguiana.

A gente passa uma vida inteirinha tentando se achar. Todo drama começa (mais precisamente) a pesar em cima de nós, na época da nossa adolescência, essa passagem entre uma vida sem preocupações, para uma vida de responsabilidades é um verdadeiro pesadelo. Em se tratando das questões estéticas, elas ficam cada vez mais ressaltadas e problemáticas, afinal se aparece uma espinha na nossa cara, isso é o suficiente pra gente querer enfiar a cara na terra e nunca mais sair do jardim de casa.

É muito sofrimento juvenil, muita insegurança com o nosso corpo e uma sucessão de cagadas, digo erros. Demora pra gente pegar no tranco, pra descobrir que aquela espinha vai desaparecer um dia e que, ela não vai durar a vida toda.

Apesar do medo que os padrões de beleza e os rótulos da sociedade nos impuseram ao longo das nossas vidas, envelhecer meu caro jovem, também é uma coisa boa. A gente se livra de uma carga tão desnecessária nas nossas costas. Eu pelo menos me livrei de um monte delas, não ligo pra tantas coisas sem importância que antigamente me faziam perder o sono.

Hoje, EU sou muito mais EU, em todos os sentidos: intelectuais, corporais, filosofais, etc. Não ligo mais pra aquela espinha inconveniente, aliás se ela quiser aparecer – vou achar até graça. A palavra envelhecer às vezes se parece como uma maldição sobre nós. A pressão é enorme, o exemplo maior disso fica por conta das mídias sociais, veículos de beleza, eles tem a necessidade de vender matérias baseadas no impossível. Me diga com um título desses, quem quer envelhecer?!“Beleza eterna: as quarentonas que não envelhececem”. Oi?! Por um acaso, somo personagens de um conto de fadas?! Eu não vejo esses títulos se referindo aos homens.

Pela lógica, se você for envelhecer só faça isso se souber envelhecer. Eita, isso além de contraditório é uma maneira tão cruel de limitar a nossa autoestima. Essa obsessão com juventude é contraproducente, irreal e beira a patologia. É quase um atestado de aposentadoria compulsória, um convite para o apocalipse geriátrico, feito totalmente na marra.

Porque, afinal só existe duas fases na vida 
de uma mulher: Juventude X Velhice.

Se você é jovem está tudo em ordem, se não é…fuja para as montanhas. Depois de ler uma matéria que promove a Beleza Eterna – O que mais nos resta a fazer?! Não, não existe beleza eterna amiga, envelhecer faz parte da vida, é, biologicamente natural, o contrário é anormal. Pega essa revista e forra o lugar aonde o seu cachorro, gato fazem coco, esse é o melhor uso para esse tipo de disseminação de uma beleza inatingível. Ser mulher quarentona (cinquentona, sessentona, e, pra cima), só faz a cobrança aumentar ainda mais, todo mundo aqui sabe que as diferenças entre os gêneros são gritantes. Um homem tem o aval para envelhecer cheio de cabelos brancos, enquanto uma mulher nunca passará despercebida nessa mesma situação sem ser criticada ou julgada, aliás haverá quem diga ser puro relaxamento e, não uma vontade própria.

Chegar próxima dos quarentas anos é sempre um sinal de alerta feminino, a gente começa a ouvir da boca de outras mulheres que o pior está por vir. Eu mesma, já me peguei fazendo isso várias vezes. Sendo a mensageira do apocalipse. Nunca parei pra entender como culturalmente isso já havia sido embutido dentro de mim, como um fato intransponível e certo. E como fato, eu apenas repassava para frente.

Desconstruir velhos padrões não é algo simples, ele passa primeiro pelas nossas sensações, não adianta eu pensar o contrário se eu sinto que realmente envelhecer é um tabu. O processo de desconstrução faz parte do nosso dia a dia, a cada nova situação que nos deparamos, precisamos analisar de forma bem consciente se estamos apenas reproduzindo um velho padrão ou se realmente pensamos dessa maneira. Toda mudança começa de dentro pra fora, ser mais gentil com você mesma faz parte dessa importante mudança de postura. Não se criticar e se julgar com frequência são duas aliadas para uma mudança de sensações, elas nos dão o direito de uma fala mais justa conosco.

A diferença entre homens e mulheres chegando na meia-idade é a uma cobrança desproporcional de padrões estéticos. Ok! Homens engordarem! Péssimo! Mulheres engordarem e, ainda por cima, envelhecerem. Sendo assim, não vamos criticar nossa coleguinha que é mais gorda do que nós, não vamos olhar atravessado para uma mulher de biquini na praia se ela não vestir 36, vamos praticar a empatia com as outras mulheres, vamos praticar a empatia conosco, se eu tenho uma barriga, ela não pode comandar a minha felicidade, quem comanda a minha vida sou eu, não ela.

Jovens, envelhecer tem suas vantagens, sem medo de ser feliz!

“Eu queria dizer à juventude que seja livre. Se o homem, de uma maneira geral, tem vocação para a escravidão, o jovem tem uma vocação ainda maior. O jovem, justamente por ser mais agressivo e ter uma potencialidade mais generosa, é muito suscetível ao totalitarismo. A vocação do jovem para o totalitarismo, para a intolerância é enorme. Eu recomendo aos jovens: envelheçam depressa, deixem de ser jovens o mais depressa possível, isto é um azar, uma infelicidade. Eu já fui jovem também e não me reconheço no jovem que fui. Eu só me acho parecido comigo até os dez anos e após os trinta. Eu já era o que sou quando criança. Na adolescência eu me considero um pobre diabo, uma paródia, uma falsificação de mim mesmo. Depois, a partir dos trinta, eu me reencontro. Por isto, digo aos jovens: não permaneçam muito tempo na juventude que isto compromete”

Nelson Rodrigues