#Nos40DoSegundoTempo

Mãe {feliz} viaja!

Minha primeira viagem longe do meu filho Pedro, foi há muitos anos atrás. Eu já contei tudo AQUI pra vocês. Já na minha segunda viagem sem ele, eu também estava “deixando” a Cora, que na época era um bebezinho de quase 6 meses de idade. Não foi fácil, aliás foi foi bem mais difícil, além de ter dois filhos, eu optei por parar a amamentação pra não deixar de viajar.

Entrei num conflito terrível. Ir ou ficar?! Eis a questão! Marquei uma consulta com o meu pediatra, levei a minha dúvida (culpa) cruel, mas ele imediatamente me tranquilizou. Disse que não haveria nenhum problema para a Cora, que fizéssemos o desmame aos poucos (eu tinha um pouco mais de 2 meses pra minha viagem), então gradativamente fui intercalando peito e mamadeira, até que finalmente ela rejeitou o peito (antes da minha partida).

Você pode até me perguntar, mas será que eu precisava tanto viajar assim?! com dois filhos pequenos (uma bebê), não dava mesmo pra esperar eles crescerem?! Olha, eu até pensei nessa possibilidade, me cobrei muito por essa escolha várias vezes na minha vida, principalmente quando dava algum problema com eles – achava que era a minha culpa encubada, me torturando e me culpando por ter sido feliz – mas hoje, com os meus filhos grandes (o meu mais velho faz faculdade e já trabalha) eu respondo com toda certeza, sim eu precisava.

Sim, eu precisava desse tempo pra mim. Ok, eu demorei anos pra saber disso, ou pelo menos para parar as cobranças e culpas maternas da minha cabeça. Foram 15 dias em que, eu não me preocupei em alimentá-los, em colocar os dois no horário certo pra dormir, em levar o mais novo na escolinha e buscar na hora certa. Em levar ao pediatra, em tomar vacina, em comprar fraldas, em levar no parquinho pra brincar, em dar banho, e, em mais um milhão de coisas que nós mães fazemos todos os dias (com ou sem ajuda, não importa), somos nós na maioria das vezes as responsáveis pelo dia a dia dos nossos filhos. Fato.

Por isso, não me arrependo. Passei 15 dias maravilhosos em Paris, aproveitando tudo que essa cidade tem de bom. Obviamente, eu senti MUITAS saudades, mas eu dava conta desse sentimento. Eu sabia que voltaria melhor, mais revigorada e muito mais feliz. Pra ser mãe em tempo integral, a gente precisa se reinventar sempre. Viajar naturalmente foi uma maneira que eu encontrei de fazer isso. Não foi nada programado, mas foi acontecendo. Eu acho que o universo joga a gente em determinadas situações, justamente pra isso. Para o nosso crescimento e amadurecimento (ou sanidade mental).

Houveram alguns julgamentos. Mães que NUNCA fariam o que eu fiz. Que olhavam de lado com certa desconfiança ao ouvir a narrativa da minha viagem. Acho natural, mas não acho justo o julgamento. Cada mãe sabe até aonde vai o seu limite. Não cabe a ninguém julgar sem fundamento, apenas porque acha errado uma atitude pela qual ela não teria coragem ou vontade de fazer. Honestamente, na minha humilde opinião de mãe, deveria existir um decreto onde todas nós pudéssemos viajar todos os anos com nossas amigas.

Algo do tipo – lei trabalhista – se a CLT dá ao trabalhador o direito de não trabalhar durante a licença maternidade/paternidade, porque não uma licença para viajar com as amigas?! pode ser uma semana, nem precisa ser mais que isso, mas precisava ser lei. Deveria existir um Sindicato das Mães, um grupo bem organizado, onde pudéssemos valorizar esse trabalho tão desprezado e não remunerado de ser mãe. Alias, até hoje recebo indiretas pelo fato de “não trabalhar fora”, acho isso tão cafona e fora de moda.

Vamos expandir esse meu delírio para um panorama bem maior. Imaginem só, o benefício que seria para uma mãe o direito de sair de casa, espairecer, deixar os filhos com o pai, não se preocupar com a comida, com a limpeza da casa, enfim com todas essas tarefas intermináveis da casa, hein?! Então, imaginem o benefício emocional em passar uma semana sem essas tarefas domésticas e sem os cuidados diários com os filhos – isso se extende para as mães que trabalham fora, a famosa dupla jornada – uma semana sem nada disso. Paz total.

Não venham me dizer que, amar os filhos incondicionalmente significa não ficar longe deles. Nunca. Amor significa troca, significa respeito. Durante os 365 dias do ano, passar apenas uma semana sem as preocupações, sem a grande carga emocional e física educando e alimentando um filho, isso deveria ser caso de saúde pública, sim claro, mães satisfeitas, felizes e descansadas, não ficam doente. E tem mais, não precisa ser mãe pra sair de férias com as amigas, basta ser mulher, a gente sabe muito bem como isso faz bem pra nós, né não mulherada?!

**Em tempo: acabo de sair para mais uma viagem entre Amigas & Mães, seus filhos pequenos e seus maridos saudosos receberam suas mulheres cheios de amor para dar. Elas?! voltaram com carga extra de energia e realizadas. Uma frase dita pela minha amiga Dedis, me marcou “Eu estava precisando disso”!! Sem mais…

“A cada minuto uma mulher faz um aborto no Brasil”

Eu sei que estou anos luz atrasada, mas acabei de assistir todas as temporadas da série “The Orange is The New Black” (apenas por esses dias). De todas as temporadas, uma me marcou muito pelo diálogo entre as personagens Big Boo e Pennsatucky. O diálogo era sobre a legalização do aborto, baseado no livro “Freakonomics” de Steven D. Levitt de Stephen J. Dubner.

Big Boo argumenta sobre o fato da criminalidade cair, justamente quando aprovaram a legalização do aborto. Ou seja, pela análise do livro – os filhos indesejados poderiam supostamente se tornar criminosos no futuro – pelo simples fato dessas mães não terem a opção de decidir sobre os rumos de suas próprias vidas, como se espera dentro de uma sociedade. A opção pelo aborto é uma forma de não submeter essas (futuras) crianças a situações de privação, pobreza, abandono, abusos, drogas, enfim a uma vida negligenciada, as estatísticas mostram que essa medida 20 anos depois, efetivamente fez o crime declinar.

E, o que essa informação tem a ver com o título desse post?! se olharmos as estatísticas brasileiras, elas são alarmantes. A cada (1) minuto (1) uma mulher faz (1) um aborto. Uma em cada cinco mulheres (aos 40 anos), já fez pelo menos um aborto na vida – isso significa que 4,7 milhões de mulheres já abortaram. Mulheres nordestinas pobres, negras ou indígenas fizeram mais abortos que as mulheres brancas e com maior escolaridade. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto, recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas por ele. O aborto inseguro é a quinta causa de morte materna.

4 mulheres morrem por dia em consequência do aborto clandestino

Eu não preciso desenhar para que, todos possam entender a relação entre mulheres pobres e com baixa escolaridade morrerem muito mais e serem as mais vulneráveis pela criminalização do aborto, ao contrário das mulheres com boa situação econômica e escolaridade que, são capazes de pagar por uma clínica clandestina de qualidade, não é?! Poder econômico significa a possibilidade de não morrer, em decorrência de um aborto clandestino. E isso, esta dissociado da relação de religiosidade de cada uma delas, muitas mulheres se declararam católicas, evangélicas e abortaram mesmo assim, provando que aborto não escolhe crença.

Descriminalizar o aborto vai muito além de questões morais, ele garante o direito de cada mulher em decidir sobre questões em relação a sua vida pessoal, sua saúde, seu estado mental e psicológico, além de suas condições econômicas e de sua situação no meio em que ela está enserida. Nosso Estado é laico, ou seja ele deveria garantir a nossa autonomia em tomar as nossas próprias decisões. Cada um de nós, homens, mulheres, nós não podemos nos apegar a opiniões e pesquisas contra o aborto e sua prática ilegal, essa decisão não cabe as pesquisas de opiniões, cabe a cada uma de nós, isso é uma questão individual.

Diálogo sobre o aborto/OITNB

Big Boo: Já leu o livro “Freakonomics”?
Pennsatucky: Não. É sobre mulheres barbadas e anões?

Big Boo: Quase. É sobre teoria econômica. Causa e efeito.

Pennsatucky: Parece chato.

Big Boo: Na verdade, é uma boa leitura. Tem um capítulo chamado “Aonde foram parar os criminosos”. Na década de 1990, o crime caiu dramaticamente e o livro atribui isso à aprovação do aborto.

Pennsatucky: A escuridão de 1973.

Big Boo: É bem ao contrário, na verdade. Os abortos ocorridos após a legalização eram crianças indesejadas. Crianças que, se suas mães fossem forçadas a ter, terminariam pobres, negligenciadas e maltratadas, os três ingredientes mais importantes ao se produzir um criminoso. Só que eles não nasceram. Então, 20 anos depois, quando estariam no auge do crime, eles não existiam. E a taxa de crime caiu drasticamente.

Pennsatucky: O que você quer dizer?

Big Boo: Quero dizer que você era uma ‘bostinha’ entupida de metanfetamina, e se seus filhos tivessem nascidos, também seriam ‘bostinhas’ entupidas de metanfetamina. Ao interromper estas gestações, você poupou a sociedade do flagelo de sua prole.

Pennsatucky: Nunca havia pensado desta forma.

Big Boo: Talvez você deva. Talvez você deva parar de punir a si mesma.

*tradução livre.

Em tempo, ano passado tivemos um grande avanço de mentalidade do Supremo Tribunal Federal, onde segundo o ministro Luís Roberto Barroso…

“Na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral da gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não”, escreveu o ministro sobre o direito à igualdade de gênero.

Países democráticos e desenvolvidos, como os Estados Unidos, a Alemanha, o Canadá e a França, não criminalizam o aborto no início da gestação. Barroso afirmou que esse entendimento não tem como objetivo disseminar a interrupção da gravidez — e sim tornar o procedimento raro e seguro, mediante a oferta de educação sexual e distribuição de contraceptivos”

Na íntegra: .http://epoca.globo.com/saude/cristiane-segatto/noticia/2016/11/stf-decide-que-o-aborto-ate-o-terceiro-mes-nao-e-crime-o-que-isso-significa.html

A Pesquisa Nacional do Aborto 2016 foi coordenada por Debora Diniz, Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro; realizada pela Anis – Instituto de Bioética e Universidade de Brasília; financiado pelo Ministério da Saúde. Os dados foram coletados pelo IBOPE-Inteligência. O estudo foi aprovado para publicação pela revista Ciência & Saúde Coletiva

*Quantos minutos você levou para ler este post?!! 3, 4, 5 minutos?! enfim, nesses mesmos minutos mais mulheres (que conhecemos ou não) abortaram hoje. Sabe se lá, em que condições?!

Você parou pra pensar o que elas estão sentindo agora?! será que elas estavam sozinhas?! quanto medo elas estão passando nesse momento?! são criminosas?! por isso, vamos trabalhar a nossa empatia e olhar para essa questão sem julgamentos, vamos tratá-la com compaixão e justiça. Não nos cabe sermos hipócritas.

Ódio e amor pela minha ginástica

Eu nunca fui uma apaixonada pelos esportes. Fato. Eu bem que tentei entrar pro time de vôlei da escola, mas o que eu consegui foi apenas ficar no banco de reservas, confesso eu era muito ruim, não tinha força nos braços para os saques, quem diria para as recepções, o resultado eram braços super vermelhos de tanta pancada.

A aula de educação física era uma sofrência só, pensa numa pessoa que entrava na quadra contando os minutos pra aula terminar?! Eu, sempre, tinha horror dos polichinelos, ódio mortal das corridas em volta da quadra, detestava os abdominais (inclusive até hoje) afinal, tem coisas que não mudam jamais. Eu achava tudo muito chato pro meu gosto juvenil.

Sempre preferi a dança aos esportes. Tanto é que me deram o apelido de “Flashinha” na escola, eu dançava nas aulas de educação física (sempre que o professor virava as costas). Ok! Quem não entendeu o apelido, ele remete a década de 80, quando o filme Flash Dance fez o maior sucesso. Dê aquela googada básica pra saber do que se trata.

Enfim, quando eu me livrei das aulas de ginástica do colégio, olhem a ironia do destino, resolvi eu entrar na academia por livre e espontânea vontade . Isso mesmo que vocês leram, na academia. Sabe aquela fase, onde todo mundo começou a frequentar academias e existia uma aula de aeróbico, onde a galera fazia um tipo de coreografia toda sincronizada?! eu entrei nessa vibe, queria virar “rata de academia”, usar biquíni asa delta e arrasar na praia. Foi esse o motivo que me levou à academia. Pura vaidade e falta de personalidade.

Meu plano seria perfeito se eu fosse “aquela esportista”, que eu nunca fui. Em um ano pagando todo santo mês a mensalidade, eu devo ter ido umas 5 vezes no máximo. Minha vontade de ser “rata”, esbarrava na minha preguiça diária  de ir treinar. Cada dia eu inventava uma desculpa mentalmente, para não ir. Sendo assim, não foi dessa vez que eu virei uma “rata de academia”, toda sarada. E quer saber de uma coisa?! realmente na época eu não me importava, mas isso não significava que eu vivia em paz com o meu corpo. Sempre tinha um defeito pra eu olhar.

Os anos foram passando e eu tive dois filhos. Aí não teve mais jeito, chegou a hora, nada de querer virar “rata de academia”, simplesmente era necessidade em voltar ao peso e a forma de antes. Aliás, preciso atualizar os termos da área das academias, agora o termo é virar fitness. Na academia, dessa vez eu fui me endireitando, comecei a me forçar a ter uma rotina de exercícios e, olha que eu consegui frequentar com regularidade a academia, viu?!

Ela passou a fazer parte do meu dia a dia. Eu me tornei uma aluna assídua, com isso eu comecei a ver as mudanças no meu corpo, Fiquei animadinha e passei numa nutricionista, mas na real, lá no fundo, eu nunca estava  100% satisfeita. E, desconfio que essa insatisfação é quase geral, não existe mulher que consiga ficar feliz – incondicionalmente – com o próprio corpo, a gente sempre quer mais.

Eu comprovo o que digo, quando vejo as fotos de antigamente, elas fazem a gente se questionar com perguntas do tipo “Nossa, olha como eu era magrinha, meu corpo era tão bom e eu não me dava conta”. É sempre assim, o nosso padrão de perfeição é muito alto, ele sempre nos leva a frustração eterna. A regra é essa, quando a coisa está boa, a gente não consegue se reconhecer nela. Mas quando a coisa está ruim, a gente aponta o dedo na ferida e não para nunca mais de sofrer.

Uma vez me elogiaram na academia, fiquei muito sem graça e apesar de ter recebido um elogio maravilhoso sobre meu corpo, afinal eu estava lá pra isso, em busca do tão sonhado estilo “fitness” de ser, no fundo eu não acreditei no elogio. Impressionante como a parte emocional do nosso cérebro, insiste em sentir o contrário da realidade. Você sabe que está bem, mas sente que não esta. A pressão entre as mulheres é grande, corpos esbeltos são mostrados nas mídias e, na minha cabeça seria muita pretensão eu achar que poderia alcançar esse corpo. Sempre desconfiei de mim.

Hoje, sou uma mulher na casa dos 40 anos, já engordei, já emagreci, já entrei na menopausa precoce, já quis fazer plástica na barriga, já pensei em milhares de soluções pro meu “problema”, mas no fundo nada disso tem a ver com o corpo, e sim, com a autoestima. Foi só quando eu me dei conta desse GRANDE detalhe é, que ficou mais simples a minha relação com o meu corpo. Isso não quer dizer que eu não estou nem aí, mas sim que, agora eu me permito relaxar,  me permito ser imperfeita, não ligo para os padrões que me escravizam. Se eu não consigo ir na ginástica (como hoje), não fico me cobrando ou me torturando psicologicamente. Não deu, não quis, seja lá qual foi o motivo, meu corpo não vai desabar por isso. Óbvio, eu mantenho uma frequência, controlo na medida do possível minha alimentação, passo na endocrinologista, faço tratamentos estéticos, mas não exijo mais “aquela” perfeição de antes, que era impossível de alcançar.

O fato de odiar esportes e academias no passado, sempre foi motivo de cobrança interior. Porque eu não gosto de fazer ginástica?! porque fulana gosta?! quando vai chegar o momento em que, eu vou treinar 2 horas por dia, além de treinar nos fins de semana, comer frango com batata doce e adquirir uma barriga sarada, cheia de gominhos?! Eu mesma respondo, nunca, never. Não me interessa essa vida, eu não gosto. Fato. Por isso, eu não posso me cobrar ter um corpo perfeito, um corpo que precisa de dedicação  full time, um corpo que tiraria de mim, muito da minha alegria de viver. Isso é irreal

É verdade, eu fico feliz, me sinto bem quando emagreço, mas controlo a minha frustração quando engordo. Não posso deixar de ser feliz por isso, até porque eu vou emagrecer/engordar outras tantas vezes. Essa é a vida. Não vou, não quero me privar de uma sobremesa, de um belo jantar e uma taça de vinho. A ginástica hoje pra mim, serve como fator de saúde e manutenção, nada de almejar virar a mais nova blogueira fitness do pedaço. Continuo dormindo até mais tarde nos sábados, domingos e feriados, frequentando apenas durante a semana a academia. Alguns dias eu dou cano mesmo, ainda mais quando meus filhos entram de férias, parece que eu vou no embalo deles.

Agora, não me peça pra jogar, isso mesmo, eu não jogo nada, continuo detestando esportes em geral, meu negócio é aula de corrida (dentro da academia e com ar-condicionado)/musculação (com personal e reclamando a cada minuto) e, olhe lá, que tá bom demais. Nada de tristeza, meu corpo agradece e não reclama das gordurinhas extras, ou melhor minha autoestima, porque é essa que eu preciso exercitar frequentemente, sempre. Mente sã e corpo são, como diria o filósofo romano Juvenal.